
MARCUS TAKAHARU OYA 6º Dan AIKIKAI/FEPAI

Nascido em São Francisco do Pará, no nordeste paraense, Marcos Takaharu Oya traz consigo a história e a força da superação de seus antepassados. Ele foi um imigrante no Japão (dekassegui), onde foi soldador, passou frio e solidão, superou perdas na família e conseguiu tornar-se uma referência na arte marcial Aikido no Brasil.
No dia 30 de janeiro de 2011, Marcos Takaharu consagrou-se como o primeiro mestre paraense de Aikido, ao alcançar a graduação de 4º Dan. O “Dan” é uma espécie de pós-graduação que o praticante consegue após a faixa-preta. Takaharu já é também o mais graduado de toda a região Norte.
O título foi concedido depois de um longo teste que avaliou uma sequência de mais de 250 técnicas durante uma hora. A avaliação foi feita pelo mestre Makoto Nishida, 7º Dan, uma das maiores autoridades na arte marcial do país. Shihan (mestre) Nishida é presidente e diretor técnico da Fepai – Federação Paulista de Aikido, presidente da Federação Brasileira de Aikido e único representante, na América Latina, da Federação Internacional de Aikido (IAF).
Depois de 11 anos de trabalho, Takaharu teve o seu reconhecimento quando o Makoto Nishida considerou o aikido ensinado por ele, em Belém, como o melhor nível técnico dentre todas as capitais ligadas à Fepai. “Isso é o resultado de muito trabalho e dedicação. Só agora eu percebo que o aikido está começando a ficar forte no nosso Estado”.
História marcada por dificuldades...
A história de luta do sensei Takaharu começa muito antes do seu envolvimento com o Aikido no Pará. Precisamente na década de 40, junto com dezenas de famílias que migraram do Japão para o Brasil.
Nesta época, chegava a Igarapé Açu, o japonês Noboru Oya, com apenas uma mala nas mãos e muita vontade para trabalhar. Ele conheceu Kimie Nakai Oya, sua esposa, e juntos se estabelecerem em São Francisco do Pará, nordeste do Estado.
Marcos Takaharu foi um dos sete filhos do casal, que passou por muitas dificuldades até montar um negócio de pimenta-do-reino e o mamão papaya. Criado com a rigidez da tradição oriental, Takaharu esperou até os 18 anos para realizar um sonho comum para os descendentes: viajar para o Japão em busca de emprego, o que fez em 1992, Por sete anos, trabalhou como soldador numa montadora, fazendo horas extras e passando por diversas dificuldades.
No Japão, Takaharu teve a opção de treinar artes como kendo, judô e o kickboxer, mas o que chamou mais a sua atenção foi uma arte que ele nunca tinha visto: o aikido. “Sempre gostei de esportes coletivos, mas no Japão as pessoas não são muito dispostas para jogar futebol ou outros esportes parecidos. A princípio escolhi o aikido porque era desconhecido e também porque poderia treinar sem depender de várias pessoas”, explica o sensei.
Depois da aula experimental, Takaharu não parou e quando finalmente conquistou a faixa-marrom, grau que antecede a faixa-preta, ele percebeu que aquela atividade poderia se tornar algo mais sério “Eu visitei o Pará quando era faixa-marrom. Depois disso decidi que só voltaria aqui depois do meu 2º Dan e começaria a dar aulas”, relembra Takaharu.
Experiência no Japão e o retorno para casa...
Apesar do reencontro com a família no Brasil, a volta do sensei Takaharu ao Japão foi difícil. A empresa em que trabalhava passava por uma crise econômica e, muitos funcionários foram demitidos.
A rotina de trabalho e a solidão leva as pessoas, em determinados momentos, ao seu limite e Takaharu sentiu isso na pele. “O índice de suicídios lá é muito grande. As pessoas às vezes enlouquecem de tanto trabalhar. No Japão as pessoas vivem para trabalhar, enquanto no Brasil, elas trabalham para viver. Eu senti essa pressão na pele. Houve um dia em que me deu uma vontade de sair correndo na neve, gritando, por causa do estresse. Mas eu me segurei, mantive o meu pensamento firme e continuei”, relata.
No final de 1998, Takaharu finalmente alcançou o seu 2º Dan, após sete anos de treinamento com o shihan Shimada. Na mesma época, o já “sensei” Takaharu recebeu um dos seus maiores incentivos para seguir a carreira como professor “Na época eu fui apresentado ao Doshu, Moriteru Ueshiba, líder de todos os praticantes de aikido e neto do fundador. Foi uma grande honra dada pelo meu sensei que disse a ele a minha intenção de ensinar. O Doshu apertou a minha mão e disse ‘Takaharu, siga o seu caminho que nós lhe daremos todo o apoio que for possível no Japão e no Brasil’. Este foi um momento de grande emoção na minha formação”, relembra Takaharu.
Após a conquista, o jovem sensei, que tinha apenas 23 anos, treinou na sede da Aikikai no Japão e viu algumas apresentações do próprio Doshu e conheceu o seu futuro tutor, shihan Makoto Nishida.
Com um 2º Dan nas costas, muitas ideias e pouco dinheiro no bolso, Takaharu voltou para São Francisco do Pará com a meta de ensinar. Seu primeiro aluno foi Heitor Oya, seu sobrinho, que hoje, aos 23 anos, é faixa-preta e o acompanha como professor assistente.
Mais uma grande prova de superação...
Poucos meses depois da chegada de Takaharu do Japão, em dezembro de 1999, seu pai, Noboru Oya, morreu. Três meses depois, Kimie Nakai Oya, sua mãe, também faleceu. “Eu senti como se fosse um baque atrás de outro. A perda dos meus pais foi um período muito difícil. Os japoneses têm um jeito diferente de ver a morte. Eles dizem que você chora quando alguém nasce, pelo sofrimento que ela vai passar e comemora quando alguém morre, por que ela já cumpriu a sua missão. Mas a verdade é que eu chorei muito por eles”, relembra com tristeza.
Para superar a perda de seus pais, Marcos Takaharu se dedicou inteiramente ao seu trabalho e, aos poucos, foi começando a ensinar em Belém. Com o seu 2º Dan, ele já era o professor mais graduado do Estado, porém, o sensei não quis parar e em 2004 fez outro exame, avaliado pelo shihan Nishida e alcançou o 3º Dan.
Após 11 anos de trabalho, Marcos Takaharu tornou-se um referência do aikido no Pará...
Desde então, foram muitas turmas e várias academias até Takaharu se estabelecer com o seu atual grupo. O exame de 4º Dan consagrou o ex-dekassegui como o primeiro mestre e mais graduado professor da região Norte.
Atualmente, além de manter a sua grande “família” de alunos em Belém, o sensei Takaharu também é instrutor do Instituto de Ensino de Segurança do Pará (Iesp) onde ensina técnicas de aikido aplicado a situações de rua para a Polícia Militar.
POR QUE SE ORGULHAR?
Marcos Takaharu Oya é um dos grandes divulgadores do aikido no Pará e, além disso, possui a maior graduação da região Norte do país. O aikido praticado e ensinado por ele foi considerado, neste ano, pelo shihan Makoto Nishida, presidente da Fepai, como o melhor nível técnico dentre todas as capitais ligadas à Federação.

